Durante a passagem do tempo a linguagem artística da dança foi passando por muitas transformações. Uma das mais importantes é que os movimentos foram se tornando cada vez mais livres e a dança foi se abrindo para pessoas e gestos muito diferentes. Desse processo surge a improvisação, um modo de fazer dança em que os movimentos não são criados por um coreógrafo, mas são resultado de diferentes estímulos corporais.
Improvisações na dança
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| Negrume, espetáculo de dança da Cia. Balé Baião dirigida por Gerson Moreno, de Itapipoca (CE), na 4 Bienal Internacional de Dança do Ceará (CE), 2014. |
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| Cena do espetáculo O beijo, da Cia. Nova Dança 4. Direção de Cristiane Paoli Quito. São Paulo (SP), 2011. |
OBSERVE AS IMAGENS.
1. Como são os movimentos em cada uma das imagens?
2. Para você, que impressões esses movimentos passam?
3. Essas imagens lembram algo que você conheça?
A primeira foto é do espetáculo Negrume, de uma companhia do Ceará chamada Cia. Balé Baião de Dança Contemporânea. A outra imagem é do espetáculo O Beijo, da Cia. Nova Dança 4, de São Paulo.
A Cia. Balé Baião de Dança Contemporânea, dirigida por Gerson Moreno, é composta por bailarinos afrodescendentes e seu foco de criação está na relação de convívio com comunidades quilombolas cearenses. Para os integrantes dessa companhia, interessa criar dança com base no contato com essas comunidades.
A convivência desde 2008 entre a Cia. Balé Baião e quilombolas cearenses (comunidades de Nazaré, na Serra de Itapipoca, e Águas Pretas, da cidade de Tururu) fez com que o coreógrafo Gerson Moreno trouxesse para a cena do espetáculo Negrume os gestos dos moradores das regiões, principalmente das crianças e dos idosos. O que mais inspirou os artistas da companhia foram os movimentos lúdicos e ritualísticos presentes nas rodas de conversa, de oração e nas festas.
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O espetáculo se baseia em dois eixos designados durante o processo de criação: "o giro-moleque na roda do mundo", termo criado para a pesquisa do corpo em seu estado natural e diário, e "ritual das coisas invisíveis", que pesquisa a ideia de corpo sagrado, ou seja, o corpo presente nos rituais religiosos. Negrume também faz um paralelo entre as experiências de um "corpo negro interiorano" (dos moradores das comunidades quilombolas) e do "corpo negro globalizado e urbano" (dos moradores das grandes cidades).
Já a Cia. Nova Dança 4, dirigida por Cristiane Paoli Quito (1960-), que originalmente é diretora de teatro, cria sua dança a partir de um diálogo intenso entre diferentes linguagens artísticas, como dança, teatro, música e literatura. Seus espetáculos vão se construindo por meio das interações entre os intérpretes (bailarinos, músicos e atores) e o público.
O espetáculo O beijo é baseado no livro O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues (1912-1980). A dramaturgia do escritor conta a história de um beijo na boca dado na hora da morte de um homem, o que se torna um escândalo social abalando a reputação de Arandir, personagem principal da obra. Neste espetáculo, a Cia. Nova Dança 4 tem o intuito de criar narrativas sem palavras, ou seja, contar histórias se utilizando somente do corpo. O teatro é o principal foco dessa pesquisa, que assim como o texto é repleto de suspense. Como diz a diretora da obra de dança, também importante diretora de teatro:
Buscávamos nos apropriar do universo de Nelson Rodrigues em O beijo no asfalto, seu ritmo de escrita, sua dinâmica, o tipo de vocabulário proposto, mesmo que não fôssemos em cena produzir sequer uma fala emitida pela voz.
Depoimento de Cristiane Paoli Quito para o site Clickondance. Disponível em: <https://bit.ly/2R7G250>. Acesso em: 23 set. 2018.
Com a obra, a Cia. Nova Dança 4 busca discutir questões importantes da sociedade atual como o papel da imprensa, fake news ('noticias falsas', em inglês) e abuso de autoridade.
Apesar dos grupos Cia. Balé Baião e Nova Dança 4 fazerem suas criações com base em propósitos bem diferentes, ambos são companhias de improvisação de dança.
4 - O que você entende por improvisar na dança?
As pessoas se juntam para criar em dança pelos motivos mais variados. No entanto, quando se trata de dança, a comunicação com esses motivos e a forma de expressá-los acontece por meio do corpo. O corpo, sendo o centro dessa forma de arte, é importante em qualquer estilo e em qualquer forma de pensar e fazer a dança. No entanto, no caso da improvisação, a relação entre corpo e movimento se dá de uma forma muito particular e especial.
Na improvisação em dança, os movimentos não surgem unicamente pelas ideias do coreógrafo. Eles podem ser resultado de várias experiências corporais, geradas a partir de estímulos que também podem ser bem diferentes. É possível improvisar com base em experiências que gerem sensações no corpo; procurando mexer partes do corpo de formas diferentes do usual; a partir de composições do corpo em relação ao espaço; a partir da reação aos movimentos de outras pessoas; da relação de movimento entre dois corpos; a partir de ideias, textos, poemas ou imagens; ou mesmo com base nos elementos que compõem um espetáculo, como a iluminação, o cenário e a música, e assim por diante.
Existem duas formas principais de improvisação: é possível improvisar para descobrir novos modos de se movimentar com o objetivo de criar uma coreografia que será apresentada posteriormente e é possível também improvisar direto em cena. Nesse último caso, a composição do espetáculo se dá no instante de sua apresentação.
Improvisação como espetáculo
Trabalhamos para cada um perceber, sentir, tomar consciência do próprio corpo e entender como funciona o padrão de seus movimentos e gestos. Passamos pela análise de como cada bailarino e, com seu próprio jeito, para depois tentar entender como o corpo se comporta entre a sensação e a ação.MONTEIRO, Zélia. Entrevista concedida à revista TPM. São Paulo, 2009.
O depoimento que você leu é parte de uma entrevista dada à revista TPM em 2009 por Zélia Monteiro, coordenadora e diretora do Núcleo de Improvisação. Na entrevista, Zélia aponta processos para transformar ação e sensação em movimento do corpo na obra de dança que se dá em tempo real, na improvisação como espetáculo.
Em um trabalho em que a improvisação se dá no instante do espetáculo, ou seja, no qual o bailarino improvisa diante do público, acionar a memória corporal é muito importante. Essa memória é constituída tanto pelas experiências de vida do bailarino como pelo treinamento que ele fez para conseguir improvisar diante da plateia.
Diferentes companhias de dança criaram treinamentos diferentes, mas todos eles estabelecem uma relação intensa entre o próprio corpo e os estímulos que chegam até ele, por meio de uma atenção aguçada. Durante o espetáculo, esses estímulos ativam a memória corporal e se transformam em movimento. Esses estímulos podem vir do cenário, da iluminação, dos sons e do movimento dos outros corpos.
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Improvisar na dança, então, é escolher em tempo real quais estímulos se quer levar em consideração e de que forma. Os movimentos de improvisação que acontecem entre os diferentes bailarinos durante a cena e podem se dar, pelo menos, por meio de três maneiras diferentes:
- por contaminação: alguém faz um movimento que contamina, ou seja, transforma o movimento do outro. Por exemplo: alguém se move rápido e o outro reage, movendo-se mais rápido ainda.
- por assimilação: alguém faz um movimento e outra pessoa repete o mesmo movimento. Por exemplo: alguém levanta o braço direito e outra pessoa levanta o mesmo braço da mesma forma.
- por contraste: alguém faz um movimento e outra pessoa reage em oposição a ele. Por exemplo: alguém se levanta e outra pessoa se deita.
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| Grupo Tato no espetáculo Depois do acaso. São Paulo (SP), 2010. |
Observe uma cena do espetáculo Depois do acaso, do grupo Tato de Porto Alegre (RS), e responda.
5. A bailarina de baixo está segurando a de cima? O que possibilita que elas se mantenham nessa posição?
6. Você acha que os corpos estão fazendo força para se segurarem?
7. Como você imagina que as bailarinas chegaram nessa situação?
Na década de 1970, foi criada, por um grupo de coreógrafos e bailarinos estadunidenses chamado Grand Union, uma forma de dança que consiste em movimentos de improvisação que acontecem entre duas ou mais pessoas. Chamada contato-improvisação, teve o bailarino e coreógrafo Steve Paxton (1939-) como a figura mais importante de sua criação. As duas imagens anteriores mostram cenas de dois espetáculos de companhias de dança que trabalham com o contato-improvisação: o Núcleo de Improvisação, já citado, e o Grupo Tato, de Porto Alegre (RS).
A relação de movimentos entre os integrantes do contato-improvisação pode se dar por meio de três formas de contato: toques no corpo do outro; entrega de peso de um corpo no outro; e pressão entre os dois corpos.
É um diálogo corporal em que um "fala" e o outro "responde".
Os integrantes devem estar atentos se é a hora de propor o movimento ou de reagir ao movimento proposto pelo outro. O contato-improvisação requer que os participantes envolvidos estejam relaxados e atentos para fluir com os estímulos que vão surgindo e responder na hora certa.
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| Cenas do espetáculo Nós no contato, da Cia. Nova Dança 4. Direção de Cristiane Paoli Quito. São Paulo (SP), 2013. |
OBSERVE AS IMAGENS.
8. Você consegue observar nessas imagens as três formas de estar em contato com o corpo do outro descritas anteriormente (tocar, colocar o peso sobre o corpo do outro e pressionar)?
9. Como seria para você fazer uma aula de contato-improvisação? Você teria timidez ou vergonha? Em caso afirmativo, por que você acha que teria essas sensações?
10. Agora e a sua vez! Faça uma improvisação, filme e me envie.
HABILIDADES:
(EF04AR11) Explorar, criar e improvisar movimentos dançados de modo individual, coletivo e colaborativo, a partir das manifestações da dança presentes na cultura brasileira, utilizando-se dos elementos estruturantes da dança.
(EF05AR11) Explorar, criar e improvisar movimentos dançados de modo individual, coletivo e colaborativo, a partir das manifestações da dança presentes na cultura mundial, utilizando-se dos elementos estruturantes da dança
(EF07AR10) Explorar elementos constitutivos do movimento dançado nas diferentes manifestações das danças clássica e moderna, abordando, criticamente, o desenvolvimento da dança em sua história tradicional e contemporânea.
(EF08AR12) Investigar e experimentar procedimentos de improvisação e criação do movimento como fonte para a construção de vocabulários e repertórios próprios.
(EF08AR29) Experimentar, de maneira imaginativa na improvisação teatral e no jogo cênico, a gestualidade e as construções corporais e vocais de personagens que representem a diversidade do povo brasileiro, problematizando e combatendo estereótipos e preconceitos.
(EF09AR12) Investigar e experimentar procedimentos de improvisação e criação do movimento como fonte para a construção de vocabulários e repertórios próprios.
FONTES:
BOZZANO, Hugo Luis Barbosa. Janelas da Arte: 8º ano / Hugo Luis Barbosa Bozzano, Perla Frenda, Tatiane Gusmao. – 2. Ed. – Barueri [SP]: IBEP, 2018.
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ResponderExcluirAs respostas são pessoais.
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